“Infância Protegida, Futuro em Jogo”: Governo Inaugura Mês da Criança com Promessas Num País Onde a Realidade Atrasou o Futuro

São Tomé e Príncipe – Entre discursos institucionais, palavras de esperança e uma plateia repleta de crianças, arrancou oficialmente o Mês da Criança, sob o lema “Infância Protegida, Futuro Garantido”. O evento principal decorreu hoje, terça-feira, na Escola Básica Albertina Matos, em São Tomé, mas a emoção e as expectativas rapidamente ultrapassaram os muros da escola.

No entanto, por trás da cor dos balões e da alegria das músicas infantis, esconde-se uma realidade inquietante: centenas de crianças continuam sem acesso digno à educação, enfrentam carências alimentares e são diariamente vítimas de negligência e violência doméstica.

Adelaide do Espírito Santo, de apenas 11 anos, subiu ao palco com a segurança de quem sabe que está a carregar a voz de muitas. Num discurso direto, comovente e maduro para a idade, desafiou os adultos a saírem do conforto das palavras e passarem à acção.

“Não precisamos apenas de brinquedos no Dia da Criança. Precisamos de escolas com carteiras, livros, professores que nos compreendam e alimentações que não nos deixem com fome à hora do recreio. Precisamos que parem de fingir que está tudo bem”,
declarou Adelaide, com os olhos fixos nos representantes do governo.

As suas palavras provocaram um silêncio profundo na sala. Algumas mães limparam discretamente as lágrimas. Outros aplaudiram de pé. Foi impossível ignorar o apelo da criança, que terminou dizendo:

“Eu sonho ser engenheira. Mas não posso construir o futuro se a minha escola está a cair.”

A ministra da Educação, Isabel Abreu, foi clara ao reconhecer os desafios que ainda persistem. Admitiu falhas do passado, mas prometeu uma nova abordagem, mais centrada na acção concreta do que na retórica.

“Este mês não pode ser apenas comemorativo. Tem de ser um ponto de viragem. Vamos reforçar o número de professores, melhorar infraestruturas escolares e criar mecanismos para combater a violência contra as nossas crianças.”

Isabel Abreu sublinhou também que o governo está a desenvolver, com parceiros internacionais, um plano nacional para a melhoria do ensino básico até 2030, e prometeu tornar a proteção da infância uma causa transversal a todos os ministérios.

“Não proteger as nossas crianças é trair o país. É como cortar as raízes de uma árvore e depois perguntar porque não dá frutos.”

No entanto, para muitos pais e educadores presentes, as promessas não bastam. Um encarregado de educação confidenciou:

“Todos os anos ouvimos isso. Mas na escola do meu filho, a sanita ainda é um buraco no chão e o professor falta três vezes por semana.”

A ministra anunciou um leque de atividades para o mês, incluindo:

  • Oficinas de leitura

  • Feiras de ciências

  • Competições desportivas

  • Sessões de cinema educativo

  • Campanhas de sensibilização sobre abuso infantil

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