Liceu Nacional acolhe a Primeira Conferência Nacional em homenagem à poetisa e nacionalista, figura central da luta pela independência
Com profundo simbolismo e um forte sentido de dever histórico, teve início esta segunda-feira, 29 de abril, no Pavilhão do Liceu Nacional, a Primeira Conferência Nacional dedicada à vida e legado de Alda Espírito Santo — poetisa, nacionalista, educadora e uma das maiores figuras da história contemporânea de São Tomé e Príncipe.
Organizado pelo Ministério da Educação, Cultura, Ciência e Ensino Superior, o evento reúne governantes, académicos, estudantes e cidadãos comuns, todos movidos pelo desejo de relembrar e valorizar uma mulher cuja obra marcou para sempre a identidade do país. Alda Espírito Santo foi celebrada como “a matriarca da Nação” e “a alma poética da independência”, reconhecida pela sua contribuição intelectual e pela sua ação política corajosa.
Durante a cerimónia de abertura, a Presidente da Assembleia Nacional, Celmira Sacramento, prestou uma das mais impactantes intervenções. Em tom emocionado, destacou Alda como “a voz firme e maternal da nossa consciência coletiva” e sublinhou a importância simbólica da sua autoria da letra do Hino Nacional. “Mais do que palavras, o hino que ela nos deixou é uma declaração de princípios que deve continuar a inspirar cada são-tomense”, afirmou.
Uma das propostas de maior destaque surgiu precisamente da Presidente da Assembleia, que defendeu a transformação da antiga residência de Alda Espírito Santo num Museu Memorial, espaço vivo de memória, pesquisa e inspiração para as futuras gerações. A proposta foi calorosamente recebida e reforçada por diversos participantes como uma forma concreta de manter viva a herança da homenageada.
Alda Espírito Santo foi também a primeira mulher a presidir à Assembleia Popular Nacional, entre 1980 e 1991, e deixou uma marca indelével como defensora da justiça social, da igualdade de género e da valorização da cultura africana. A conferência recordou ainda a sua atuação decisiva durante a crise de 1975, quando intercedeu, junto da FRELIMO, em defesa de jovens nacionalistas perseguidos, garantindo a sua reintegração na vida política e social do país.
Nos vários painéis e intervenções, ficou evidente a preocupação com o relativo esquecimento a que a sua figura tem sido votada nos últimos anos. Participantes apelaram à urgência de revalorizar o seu contributo, principalmente entre os mais jovens. Houve também espaço para uma reflexão crítica sobre o presente e o futuro do país. “Estamos a honrar os valores e o exemplo de Alda Espírito Santo?”, questionou um dos oradores. Para muitos, a resposta está no compromisso inabalável da poetisa com o serviço público, a integridade e o nacionalismo que une e educa.
Ao longo dos próximos dias, a conferência prossegue com debates sobre a sua produção literária, visão estratégica de educação e contributos institucionais no período pós-independência.
No encerramento da sessão de abertura, ficou um apelo claro: que esta homenagem não se esgote no simbolismo, mas que inspire ações concretas que resgatem os valores que Alda Espírito Santo encarnou. “Servir, e não servir-se” — essa foi a missão maior da mulher que hoje é lembrada como um dos pilares da construção da Nação são-tomense.