CNJ dispara contra o Governo: 50 anos de frustrações e políticas vazias

No rescaldo das celebrações dos 50 anos da independência de São Tomé e Príncipe, o Conselho Nacional da Juventude (CNJ) rompeu o silêncio com um comunicado divulgado na sexta-feira, 1 de agosto de 2025. O documento, assinado pela Secretária-Geral Dulcezia Botelho, acusa os sucessivos governos de falharem sistematicamente com a juventude do país e alerta que o tempo da passividade terminou: “O futuro começa connosco. Agora.”

Ao longo das últimas cinco décadas, 18 governos ocuparam o poder, todos prometendo progresso, mas, segundo o CNJ, nenhum demonstrou vontade política concreta de colocar a juventude no centro das políticas públicas. “Fomos sistematicamente usados como massa de manobra, como plateia para discursos vazios (…) mas nunca como parceiros na construção do país”, denuncia o comunicado.

A juventude representa atualmente mais de 60% da população são-tomense, mas o CNJ denuncia que continua a ser empurrada para a margem do desenvolvimento. A realidade de muitos jovens resume-se ao desemprego crónico, falta de oportunidades, migração forçada e uma crescente sensação de abandono por parte das instituições. Países como Portugal, França, Inglaterra, Suíça e Brasil tornaram-se destinos frequentes para os que buscam dignidade e um futuro viável fora das ilhas.

O tom crítico do documento intensifica-se ao denunciar a exclusão total do CNJ nas comemorações oficiais dos 50 anos da independência nacional. Segundo a organização, não foi convidada a participar em nenhuma comissão, nem consultada em decisões relevantes. “Recebemos apenas 40% do Orçamento Geral do Estado (OGE) destinado às nossas atividades”, afirma o comunicado, classificando o gesto como “um claro sinal de desprezo institucional”.

Essa limitação orçamental impediu a realização do Encontro Nacional da Juventude, uma das ações previstas no plano de atividades do CNJ para marcar o cinquentenário com protagonismo juvenil.

O comunicado qualifica a negligência de sucessivos governos como “um crime moral contra a juventude” e contrapõe os festejos oficiais à realidade de milhares de jovens. “Enquanto os palácios se enchem de luzes, as casas dos jovens continuam na escuridão. (…) Enquanto as bandeiras tremulam nas praças, os jovens tremem de medo do futuro.”

O CNJ declara o fim do silêncio e do conformismo: “Não vamos passar mais 50 anos calados. Não vamos esperar mais 50 anos para sermos ouvidos.” Em tom mobilizador, o Conselho promete atuar com mais força e frequência nos espaços cívicos e políticos, das ruas às urnas.

Como sinal concreto de compromisso com o futuro, o Conselho Nacional da Juventude anunciou que em breve apresentará ao Governo e às demais instituições a Carta Nacional da Juventude, um documento que pretende compilar as vivências, preocupações e visões dos jovens são-tomenses, apontando caminhos e prioridades para os próximos 50 anos.

O apelo final do comunicado é direto e ousado: “Sejam líderes, não gestores do fracasso. Tomem decisões com a juventude, não sobre a juventude. Dêem-nos espaço, dêem-nos meios, dêem-nos responsabilidade. Ou então, preparem-se para nos ver nas ruas, nos fóruns, nas comunicações sociais e nas urnas.”

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