Ribeira Afonso Grita por Mudança: “Chega de Paludismo!”

PNEP desafia a Comunidade de Cantagalo a vencer a guerra contra o mosquito

A vila de Ribeira Afonso, no distrito de Cantagalo, transformou-se nesta sexta-feira, 25 de abril, no epicentro da luta nacional contra o paludismo. Sob o lema global da Organização Mundial da Saúde “Tempo para chegar a zero casos de paludismo: investir, inovar e implementar”, o país celebrou o Dia Mundial de Luta contra o Paludismo com um apelo urgente: é hora de agir com coragem e sem desculpas.

A escolha de Ribeira Afonso foi simbólica e estratégica. A comunidade tem enfrentado uma escalada preocupante de casos de paludismo, tornando-se um ponto crítico no mapa da doença em São Tomé e Príncipe. Mas neste 25 de abril, transformou-se também em símbolo de resistência e esperança.

O evento foi coordenado pelo Programa Nacional de Eliminação do Paludismo (PNEP) e mobilizou uma ampla frente de combate: governo, técnicos de saúde, representantes da OMS, do sistema das Nações Unidas, da República Popular da China, parceiros bilaterais e multilaterais. O povo respondeu com entusiasmo e presença massiva, num gesto claro de que a comunidade quer, e precisa, de mudança.

A médica Didiena Vilhete, coordenadora nacional do PNEP, lançou um alerta sem rodeios:
“Ou a comunidade muda de comportamento ou o paludismo continuará a vencer. Estamos aqui para virar esse jogo, juntos.”

Didiena Vilhete destacou que o aumento dos casos no distrito de Cantagalo exige ação imediata e vigilância permanente.
“A prevenção não pode ser apenas um conceito, tem que ser rotina em cada casa, em cada quintal, em cada gesto diário.”

Apesar dos recentes surtos, São Tomé e Príncipe tem mostrado que é possível avançar. Entre 2018 e 2023, as mortes por paludismo caíram drasticamente, com apenas dois óbitos registados nos últimos cinco anos. A combinação de estratégias como pulverização domiciliar, uso de mosquiteiros impregnados, diagnóstico precoce e envolvimento comunitário tem salvado vidas e reduzido a transmissão.

Mas os desafios permanecem teimosos. Em muitas comunidades, a resistência à pulverização e o uso incorreto dos mosquiteiros continuam a alimentar a cadeia de transmissão. A precariedade do saneamento e o estagnamento de águas criam os “condomínios ideais” para o mosquito Anopheles prosperar.

O Plano Estratégico Nacional 2023–2027 é claro: eliminar os casos autóctones no distrito de Caué e na Região Autónoma do Príncipe até 2025, e reduzir a menos de um caso por mil habitantes nos restantes cinco distritos até 2027. Uma meta audaciosa, mas tecnicamente possível, desde que o país mantenha o foco e o investimento.

Segundo assegurou o ministro do Trabalho, Segurança Social e Solidariedade, Joucerll Tiny dos Ramos, a aposta é clara e contínua.

A OMS, parceira central nesta luta, reforça a tríade indispensável: Investir. Inovar. Implementar.
Investir com prioridade na saúde pública.
Inovar com estratégias baseadas em dados, ciência e envolvimento local.
Implementar com firmeza, continuidade e monitoramento real.

Durante as intervenções, os discursos foram unânimes: esta luta não se ganha apenas com medicamentos. É uma batalha de mentalidades, de políticas públicas e de compromisso comunitário.

“Se não cuidarmos do ambiente onde vivemos, estaremos sempre a tratar sintomas sem curar a causa”, destacou um representante da OMS no país, Abdulaye Diarra.

Neste Dia Mundial de Luta contra o Paludismo, Ribeira Afonso não foi apenas o local escolhido: foi a voz que se levantou. Uma comunidade que se recusa a ser estatística, que exige ser ouvida, protegida e envolvida na solução.

A mensagem foi clara:
“Chega de paludismo. O futuro é sem picadas.”

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